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quinta-feira, 8 de maio de 2014

O Bolsa Família realmente reduziu a desigualdade?

A crítica aqui apresentada é principalmente em relação ao modelo do programa e não a sistemas de distribuição de renda. Essa forma de ajuda adotada não é o principal fator de melhora em nossa desigualdade, mas serve mais para objetivo de cunho eleitoral do que criar mobilidade social. Deixe-me explicar: se o governo realmente quisesse que os desamparados pudessem ter condições melhores, ele oferecia uma verba maior ou financiaria os custos para os mais pobres pagarem por serviços privados de qualidade como educação ou saúde. Mas, para isso, teria que reduzir o número de beneficiados para não encarecer o programa. Como o objetivo do governo é eleitoral, quanto mais pessoas forem inclusas no programa, mais fácil será ganhar eleições. Não preciso dizer qual das duas opções o governo escolheu.

Você pode estar perguntando: então, o que explica a queda na desigualdade social e pobreza nos últimos anos? A resposta é: crescimento econômico sem inflação. Nunca na história do Brasil conseguimos crescer tanto sem ao menos ter inflação, talvez apenas durante o crescimento da “Revolução Militar”. E quem deveria receber créditos por isso? O Lula? A Dilma? O PT? Obviamente que não. O Brasil somente conseguiu estabilidade monetária a partir de uma séria de reformas liberais: a criação do Plano Real e as privatizações iniciadas desde o governo Collor. Por que a desigualdade social só aconteceu na gestão do PT? O principal fator é o cenário externo. No período FHC, o mundo passou por 4 grandes crises e não colaborou para o crescimento da nação. A partir de 2001, ocorreu uma das maiores ondas de crescimento econômico mundial da história e puxou todas as economias emergentes exportadoras de commodities. Com a inflação controlada, o Brasil conseguiu criar riqueza e prosperar.



Se o crescimento econômico iniciou em 2001, por que não houve queda na desigualdade também na gestão de FHC? Como posso provar que o Bolsa família não teve influência ou responsabilidade nessa redução? A resposta é clara: a desigualdade caiu no período 2001 e 2003, e foi sob o comando do candidato do PSDB em que houve a maior redução de desigualdade durante o boom das commodities. Se observarem no gráfico (a mancha verde equivale ao período de maior crescimento mundial), é possível notar que a queda do índice Gini (indicador que mede desigualdade social, no qual quanto menor o valor, mais igualitária é a sociedade) aconteceu apenas enquanto o mundo crescia, sem influência de nenhuma outra medida assistencialista. O Bolsa Família apenas foi criado em 2004 (http://goo.gl/JrYfz9 ), momento em que já havia uma tendência de queda na desigualdade (traço em vermelho no gráfico). Após a criação do programa, ao invés de acelerar a queda de desigualdade, houve uma desaceleração, o indicador se afasta da projeção de queda. Quando o boom econômico terminou em 2008, o programa assistencialista continuou se expandindo e não obteve nenhum resultado.


                                             Valor dos commodities ao longo dos anos.

Agora talvez chegamos em uma outra dúvida: se Lula fez milagre no início de seu mandato e o crescimento econômico mundial foi apenas uma mera coincidência? Primeiro, o declínio na desigualdade não começou na era Lula e sim 2 anos antes, exatamente quando se começou o boom das commodities. Segundo, para o país crescer, ele precisa ser mais produtivo, e o Brasil não foi. Por exemplo: se eu vendo 1 banana para a Argentina, para eu ter progresso, eu precisaria ser mais eficiente e produzir mais que 1 banana nos próximos anos. O que aconteceu com o Brasil foi ao contrário, ao invés de produzirmos mais bananas, as nossas bananas que ficaram mais caras devido ao crescimento da demanda mundial. Se vocês repararem no gráfico, a produtividade dos brasileiros só caiu durante anos e enquanto isso as commodities de alimentos, produtos que nós exportamos, quase triplicou de preço durante a era do governo do PT.


                                                    Produtividade da mão-de-obra

Lamentavelmente, a maioria dos brasileiros são leigos em economia e pouco sabem o que é bom ou não para o nosso país. As reformas liberais feitas nas gestões anteriores ao PT que colaboraram para o milagre brasileiro, e tem sido desfeitas gradativamente. Existe um sério risco do cenário internacional não mais favorecer nossa economia e boa parte de nossos ganhos sociais e econômicos podem ficar comprometidos, tudo por ignorância e burrice ideológica. Enquanto isso o Bolsa Família vai continuar em expansão, não porque produz resultados, e sim porque é a maior solução para conquista de votos já criada na Terra.

terça-feira, 6 de maio de 2014

Como seria o sincretismo do libertarianismo com o conservadorismo?




Já tendo visto antes o que é liberalismo, devemos agora entender como funciona sua participação com o conservadorismo, de modo a um não contradizer o outro. F. A. Hayek identificou duas tradições diferentes no liberalismo clássico: a "tradição Britânica" e a "tradição Francesa". Filósofos da tradição Britânica como David Hume, Adam Smith, Adam Ferguson, Edmund Burke e William Paley representam uma tradição que articula fé no empirismo, na common law, e em costumes e instituições que se desenvolveram espontaneamente através dos tempos. O liberalismo britânico representa os valores do liberalismo conservador, sendo influenciado pela Revolução Gloriosa, onde o rei britânico Jaime II foi deposto, de 1688 e pela Revolução Americana de 1776. Por sua vez, a tradição Francesa inclui Rousseau, Condorcet, a Encyclopédie e os Fisiocratas, acredita no racionalismo e nos poderes sem limites da razão e algumas vezes demonstrou hostilidade à tradição e à religião, sendo mais radical e predominante na Revolução Francesa. Enquanto a tradição britânica se baseia na ideia de reforma e gradualismo, a tradição francesa é essencialmente revolucionária.

Um ponto fundamental de tensão entre conservadores e libertários é a questão da coerção.  Porém, se for aceito que um indivíduo não deve ser coagido a seguir costumes e manter as tradições, então passa a haver vários pontos em comum entre conservadores e libertários. Rothbard, para citar o exemplo de um libertário, aderia alegremente a vários aspectos do pensamento conservador.  Em um de seus últimos ensaios, ele fez um apelo a seus companheiros libertários, advertindo que os libertários frequentemente, porém erroneamente, assumem "que os indivíduos estão ligados uns aos outros somente pelos vínculos das trocas de mercado", esquecendo que "todo mundo necessariamente nasceu em uma família" e "cada indivíduo nasceu em uma ou em várias comunidades entrecruzadas, as quais normalmente incluem um grupo étnico, com valores específicos, culturas específicas, crenças religiosas e tradições próprias."

Este blog, e seus editores, seguem a tradição britânica do liberalismo clássico, a única que em nossa visão é capaz de garantir uma sociedade verdadeiramente livre e preservar as ordens espontâneas que brotam das interações humanas. A atomização conduz a um aumento das funções estatais, tal aumento sempre foi precedido pela destruição das instituições sociais tradicionais que espontaneamente brotaram na sociedade. Acreditamos que os tradicionais "corpos intermediários" (famílias, igrejas, , associações, comunidades locais) criam uma esfera de proteção do indivíduo contra o estado e dispersam o poder através da sociedade civil.

O que é Liberalismo?


Bandeira Gadsen, usada por patriotas americanos na guerra de independência, agora também utilizada por anarco-capitalistas, uma vertente radical do liberalismo clássico.

O liberalismo é um modo de entender a natureza humana e uma proposta destinada a possibilitar que todos alcancem o mais alto nível de prosperidade de acordo com seu potencial (em razão de seus valores, atividades e conhecimentos), com o maior grau de liberdade possível, em uma sociedade que reduza ao mínimo os inevitáveis conflitos sociais. Ao mesmo tempo, o liberalismo se apoia em dois aspectos vitais que dão forma a seu perfil: a tolerância e a confiança na força da razão.

Em quais ideias se baseia o liberalismo?

O liberalismo se baseia em quatro simples premissas básicas:
– Os liberais acreditam que o Estado foi criado para servir ao indivíduo, e não o contrário. Os liberais consideram o exercício da liberdade individual como algo intrinsecamente bom, como uma condição insubstituível para alcançar níveis ótimos de progresso. Dentre outras, a liberdade de possuir bens (o direito à propriedade privada) parece-lhes fundamental, já que sem ela o indivíduo se encontra permanentemente à mercê do Estado.
– Portanto, os liberais também acreditam na responsabilidade individual. Não pode haver liberdade sem responsabilidade. Os indivíduos são (ou deveriam ser) responsáveis por seus atos, tendo o dever de considerar as consequências de suas decisões e os direitos dos demais indivíduos.
– Justamente para regular os direitos e deveres do indivíduo em relação a terceiros, os liberais acreditam no Estado de direito. Isto é, creem em uma sociedade governada por leis neutras, que não favoreçam pessoas, partido ou grupo algum, e que evitem de modo enérgico os privilégios.
– Os liberais também acreditam que a sociedade deve controlar rigorosamente as atividades dos governos e o funcionamento das instituições do Estado.

O liberalismo é uma ideologia?

Não. Os liberais têm certas ideias – ratificadas pela experiência – sobre como e por que alguns povos alcançam maior grau de eficiência e desenvolvimento, ou a melhor harmonia social, mas a essência desse modo de encarar a política e a economia repousa no fato de não planejar de antemão a trajetória da sociedade, mas em liberar as forças criativas dos grupos e dos indivíduos para que estes decidam espontaneamente o curso da história. Os liberais não têm um plano que determine o destino da sociedade, e até lhes parece perigoso que outros tenham tais planos e se arroguem o direito de decidir o caminho que todos devemos seguir.

Quais são as ideias econômicas em que se baseiam os liberais?

A ideia mais marcante é a que defende o livre mercado, em lugar da planificação estatal. Já na década de 20 o filósofo liberal austríaco Ludwig von Mises demonstrou que, nas sociedades complexas, não seria possível planejar de modo centralizado o desenvolvimento, já que o cálculo econômico seria impossível. Mises afirmou com muita precisão (contrariando as correntes socialistas e populistas da época) que qualquer tentativa de fixar artificialmente a quantidade de bens e serviços a serem produzidos, assim como os preços correspondentes, conduziria ao desabastecimento e à pobreza.
Von Mises demonstrou que o mercado (a livre concorrência nas atividades econômicas por parte de milhões de pessoas que tomam constantemente milhões de decisões voltadas à satisfação de suas necessidades da melhor maneira possível) gerava uma ordem natural espontânea infinitamente mais harmoniosa e criadora de riquezas que a ordem artificial daqueles que pretendiam planificar e dirigir a atividades econômica. Obviamente, daí se depreende que os liberais, em linhas gerais, não acreditam em controle de preços e salários, nem em subsídios que privilegiam uma atividade em detrimento das demais.

O mercado, em sua livre concorrência, não conduziria à pobreza de uns em benefício de outros?

Absolutamente não. Quando as pessoas, atuando dentro das regras do jogo, buscam seu próprio bem-estar costumam beneficiar a coletividade. Outro grande filósofo liberal, Joseph Schumpeter, também austríaco, estabeleceu que não há estímulo mais positivo para a economia do que a atividade incessante dos empresários e industriais que seguem o impulso de suas próprias urgência psicológicas e emocionais. Os benefícios coletivos que derivam da ambição pessoal superam em muito o fato, também indubitável, de que surgem diferenças no grau de acúmulo de riquezas entre os diferentes membros de uma comunidade. Porém, quem melhor resumiu tal situação foi um dos líderes chineses da era pós-maoísta ao reconhecer, melancolicamente, que “ao impedir que uns poucos chineses andassem de Rolls Royce, condenamos centenas de milhões de pessoas a utilizar bicicletas para sempre”.

Se o papel do Estado não é planejar a economia nem construir uma sociedade igualitária, qual seria sua principal função de acordo com os liberais?

Essencialmente, a principal função do Estado deve ser a de manter a ordem e garantir que as leis sejam cumpridas. A igualdade que os liberais almejam não é a utopia de que todos obtenham os mesmos resultados, e sim a de que todos tenham as mesmas possibilidades de lutar para conseguir os melhores resultados. Nesse sentido, uma boa educação e uma boa saúde devem ser os pontos de partida para uma vida melhor.

Como deve ser o Estado idealizado pelos liberais?
Assim como os liberais têm suas próprias ideias sobre a economia, também possuem sua visão particular do Estado: os liberais são inequivocamente democratas, acreditando no governo eleito pela maioria dentro de parâmetros jurídicos que respeitem os direitos inalienáveis das minorias. Tal democracia, para que faça jus ao nome, deve ser multipartidária e organizar-se de acordo com o princípio da divisão de poderes.
Embora esta não seja uma condição indispensável, os liberais preferem o sistema parlamentar de governo porque este reflete melhor a diversidade da sociedade e é mais flexível no que se refere à possibilidade de mudanças de governo quando a opinião publica assim o exigir.
Por outro lado, o liberalismo contemporâneo tem gerado fecundas reflexões sobre como devem ser as constituições. Friedrich von Hayek, Prêmio Nobel de economia, produziu obras muito esclarecedoras a esse respeito. Mais recentemente, Ronald Coase, também agraciado com o Prêmio Nobel (1991), tratou em seus trabalhos da relação entre a lei, a propriedade intelectual e o desenvolvimento econômico.

Essa é a ideia sucinta de Estado liberal; mas como os liberais veem o governo, ou seja, aquele grupo de pessoas selecionadas para administrar o Estado?

Os liberais acreditam que o governo deve ser reduzido, porque a experiência lhes ensinou que as burocracias estatais tendem a crescer parasitariamente, ou passam a abusar dos poderes que lhes são conferidos e empregam mal os recursos da sociedade.
Porém, o fato de que o governo tenha tamanho reduzido não quer dizer que ele deva ser débil. Pelo contrário, deve ser forte para fazer cumprir a lei, manter a paz e a concórdia entre os cidadãos e proteger a nação de ameaças externas.

Um governo com essas características não estaria abdicando da função que lhe foi atribuída, de redistribuir as riquezas, eliminar as injustiças e de ser o motor da economia?

Os liberais consideram que, na prática, infelizmente os governos não costumam representar os interesses de toda a sociedade, e sim que se habituam a privilegiar seus eleitores ou determinados grupos de pressão. Os liberais, de certa forma, suspeitam das intenções da classe política e não têm muitas ilusões a respeito da eficiência dos governos. Por isso o liberalismo sempre se coloca na posição de crítico permanente das funções dos servidores públicos, razão pela qual vê com grande ceticismo essa função do governo de redistribuidor da renda, eliminador de injustiças ou “motor da economia”.
Outro grande pensador liberal, James Buchanan, Prêmio Nobel de economia e membro da escola da Public Choice (Escolha Pública), originária de sua cátedra na Universidade de Virgínia, EUA, desenvolveu esse tema mais profundamente. Resumindo suas ideias sobre o assunto, qualquer decisão do governo acarreta um custo perfeitamente quantificável, e os cidadãos têm o dever e o direito de exigir que os gastos públicos revertam em benefício da sociedade como um todo, e não dos interesses dos políticos.

Isso quer dizer que os liberais não atribuem ao governo a responsabilidade de lutar pela justiça social?

Os liberais preferem que essa responsabilidade repouse nos ombros da sociedade civil e se canalize por intermédio da iniciativa privada, e não por meio de governos perdulários e incompetentes, que não sofrem as consequências da frequente irresponsabilidade dos burocratas ou de políticos eleitos menos cuidadosos.
Finalmente, não há nenhuma razão especial que justifique que os governos se dediquem obrigatoriamente a tarefas como transportar pessoas pelas estradas, limpar as ruas ou vacinar contra o tifo. Tais atividades devem ser bem executadas e ao menor custo possível, mas seguramente esse tipo de trabalho é feito com muito mais eficiência pelo setor privado. Quando os liberais defendem a primazia da propriedade não o fazem por ambição, mas pela convicção de que é infinitamente melhor para os indivíduos e para o conjunto da sociedade.

Em inglês a palavra liberal tem aparentemente um significado diverso do que aqui se descreve. Em que se diferencia o liberalismo norte-americano daquilo que na Europa ou na América Latina se chama de liberalismo?

O idioma inglês se apropriou da palavra liberal do espanhol e lhe deu um significado diferente. Em linhas gerais, pode-se dizer que em matéria de economia o liberalismo europeu ou latino-americano é muito diferente do liberalismo norte-americano. Isto é, o liberal norte-americano costuma tirar a responsabilidade dos indivíduos e passá-la ao Estado. Daí o conceito de estado de bem-estar social ou “welfare state”, que redistribui por meio de pressões fiscais as riquezas geradas pela sociedade. Para os liberais latino-americanos e europeus, como se viu antes, esta não é uma função primordial do Estado, pois o que se consegue por essa via não é um maior grau de justiça social, mas apenas níveis geralmente insuportáveis de corrupção, ineficiência e mau uso de verbas públicas, o que acaba por empobrecer o conjunto da população.
De qualquer forma, o pensamento dos liberais europeus e latino-americanos coincide com o dos liberais norte-americanos em matéria jurídica e em certos temas sociais. Para os liberais norte-americanos, europeus e latino-americanos o respeito das garantias individuais e a defesa do constitucionalismo são conquistas irrenunciáveis da humanidade.

Qual a diferença entre o liberalismo e a social-democracia?

A social-democracia realça a busca de uma sociedade igualitária, e costuma identificar os interesses do Estado com os dos setores proletários ou assalariados. O liberalismo, por seu turno, não é classista e sobrepõe a seus objetivos e valores a busca da liberdade individual.

Em que se diferenciam os liberais dos democrata-cristãos?

Mesmo quando a democracia cristã moderna não é confessional, uma certa concepção transcendental dos seres humanos aparece entre suas premissas básicas. Os liberais, por sua vez, são totalmente laicos e não julgam as crenças religiosas das pessoas. Pode-se perfeitamente ser liberal e crente, liberal e agnóstico ou liberal e ateu. A religião simplesmente não pertence ao mundo das preocupações liberais (ao menos em nossos dias), embora seja essencial para o liberal respeitar profundamente esse aspecto da natureza humana. Por outro lado, os liberais não compartilham com a democracia cristã (ou, pelo menos, com algumas das tendências que se abrigam sob esse nome) um certo dirigismo econômico que normalmente é chamado de social-cristianismo.